Projeto nacional incentiva meninas de escolas públicas a empreenderem com inovação

Iniciativa aprovada pelo CNPq mobiliza estudantes do ensino médio para desenvolver soluções reais com base em ciência, nanotecnologia e empreendedorismo

Incentivar meninas da rede pública a desenvolverem soluções inovadoras para problemas do cotidiano, por meio da ciência, da tecnologia e do empreendedorismo, é o objetivo de um projeto nacional que está em andamento em diversas regiões do Brasil. Aprovada em edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a iniciativa reúne mais de 80 pesquisadoras e atua em todos os seis biomas do país. A proposta é liderada pela professora Solange Fagan, vice-reitora da Universidade Franciscana (UFN), e tem como foco a nanociência voltada para mulheres com ações práticas realizadas diretamente em escolas públicas.

A Universidade Tiradentes (Unit) é uma das instituições que integra o projeto. Por meio de encontros interativos e oficinas com estudantes do ensino fundamental e médio, as pesquisadoras da Unit promovem uma trilha de conhecimento que une ciência, empreendedorismo, tecnologia e impacto social. De acordo com a professora Patrícia Severino, docente do Programa de Pós-Graduação em Biociência e Saúde (PBS) da Unit, a proposta foi estruturada para despertar o interesse de meninas pela ciência e também oferecer caminhos reais para transformar ideias em empreendimentos.

“Estamos desenvolvendo aqui na Unit uma vertente que será replicada em todo o Brasil, com foco na nanotecnologia aplicada ao empreendedorismo. A ideia é que essas meninas identifiquem problemas em suas realidades, pensem soluções inovadoras e aprendam a usar a tecnologia como ferramenta de transformação. Além de mostrar o que é empreender, a iniciativa ensina como identificar e resolver problemas, transformar ideias em soluções reais e até como criar um aplicativo com base nos projetos desenvolvidos”, explica Patrícia.

Ciência aplicada ao cotidiano

Também integrante do projeto, a professora Juliana Cordeiro, do Programa de Pós-Graduação em Biociência e Saúde da Unit, destaca o papel das ciências duras como elemento transformador na formação das jovens estudantes.

“A proposta é trabalhar os conceitos da nanociência de forma prática e acessível, mostrando que esse conhecimento pode resolver problemas reais da sociedade. Vamos abordar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e também desenvolver soft skills, como inteligência emocional e resiliência. Queremos que elas se sintam parte da universidade e vejam a ciência como algo possível”, pontua Juliana.

Ela relembra que o projeto foi aprovado com recursos que também possibilitam a concessão de bolsas para estudantes e professores-tutores das escolas participantes. Na região de atuação da Unit, a proposta integra a Rede Carnaúba, nome inspirado no bioma local, presente nas estampas das camisetas do grupo.

A Professora Adriana de Jesus Santos do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP) também participa do projeto nacional, incentivando meninas do ensino fundamental e médio da rede pública a desenvolver soluções inovadoras para desafios do cotidiano, por meio da ciência, da nanotecnologia e do empreendedorismo, é o propósito de um projeto nacional aprovado pelo CNPq que já está em andamento em todas as regiões do Brasil.

“Minha participação nesse projeto reforça nosso compromisso com a democratização da ciência e o incentivo ao protagonismo feminino. Levar a nanotecnologia e a engenharia para o ambiente escolar é uma forma concreta de mostrar que a ciência está ao alcance de todas e que é possível transformar conhecimento em solução real”, afirma a professora.

Metodologia e resultados esperados

Segundo o professor Heriberto Anjos, também do PBS da Unit, o projeto segue uma metodologia nacional, mas adaptada à realidade local de cada região. “O primeiro encontro tem foco no autoconhecimento, para que as meninas possam se reconhecer e integrar o grupo. A partir dos próximos encontros, vamos trabalhar com os ODS e desenvolver soluções para problemas reais, que culminarão em um produto final: um aplicativo desenvolvido por elas mesmas”, destaca.

A trilha de aprendizagem é estruturada para ser vivenciada em três encontros quinzenais. Ao final, cada grupo deverá apresentar um projeto com base em um dos 17 ODS da ONU, abordando temas como meio ambiente, saúde, educação e sustentabilidade.

Tecnologia como ferramenta de autonomia

Responsável pela parte tecnológica do projeto, o fundador da Code School, Ederson Dé Manoel, vai atuar como mentor das alunas na etapa de desenvolvimento dos aplicativos. “Meu papel será ensinar as meninas a aprenderem a aprender tecnologia. Queremos que elas tenham autonomia para lidar com ferramentas digitais. Desenvolvemos uma metodologia 100% baseada em projetos, que começa com o aprendizado de fundamentos da arquitetura de software e segue até a construção do produto final”, explica Ederson, que tem experiência na formação de jovens em tecnologia no-code no Brasil e no exterior.

Iniciando a jornada

O pontapé inicial do projeto na Universidade Tiradentes aconteceu com a visita das alunas da Escola Petrônio Portela, localizada no bairro Augusto Franco, em Aracaju. A atividade inaugural foi marcada por dinâmicas de grupo, rodas de conversa e oficinas introdutórias sobre empreendedorismo.

Para a doutoranda Gabriela Barros, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos da Unit, o encontro teve como objetivo principal despertar nas estudantes a percepção de que a ciência pode se transformar em oportunidade concreta. “Queremos mostrar que é possível empreender a partir do conhecimento adquirido em sala de aula. A ciência pode, sim, se tornar uma startup e mudar vidas, especialmente de meninas da escola pública”, afirma.

A estudante Mariana Alencar, da Escola Petrônio Portela, foi uma das participantes da primeira atividade e resumiu a experiência como transformadora. “Nunca participei de algo assim na escola. Tudo é muito novo, divertido e enriquecedor. Aprendi sobre empreendedorismo e percebi que posso transformar ideias em soluções reais. Me senti acolhida e inspirada”, compartilha.

Com encontros marcados para acontecerem a cada 15 dias, o projeto segue como parte de um movimento nacional de empoderamento feminino por meio da ciência, da tecnologia e da educação. Ao fim da trilha, as meninas não apenas terão desenvolvido habilidades técnicas e sociais, como também terão experimentado, na prática, o potencial de transformar suas realidades, e o mundo, com o poder da inovação.